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29 fevereiro 2012

Witz, terráqueo ouvinte!

Rádio 2031 é mais uma história musical super criativa e divertida para você trabalhar com as crianças.

Ástul é o apresentador da Rádio 2031, que transmite raios musicais intergalácticos cheios de possibilidades musicais. As três histórias que compõem o livro dão asas à imaginação.

A primeira, “Este compositor é uma estrela”, explora maneiras diversas de realização das bolhas musicais criadas pelo compositor Mlufton. Variando-se a velocidade, a altura, o timbre e a intensidade, o ouvinte pode criar nuances de caráter expressivo, utilizando sons vocais, corporais ou instrumentais (convencionais ou alternativos).

O “Portal do tempo” leva Ástul até Pitágoras, na Grécia Antiga, e instiga a criança a imaginar sons associados à movimentação dos planetas. Na interpretação das audiopartituras, podem ser trabalhados aspectos como densidade, textura, adensamento (o céu se enchendo de estrelas) e rarefação (as estrelas se apagando), intensidade, timbres, durações.

A última história, “Vibra-som”, aborda acústica e ecologia sonora de maneiras sensíveis e imaginativas: trabalha a associação entre energia sonora e caráter expressivo; sugere projetos de reciclagem e construção de instrumentos alternativos; conscientiza sobre a importância da relação entre som e silêncio; e, por fim, convida à criação musical a partir de temas como Dança do robô engasgado, Variações sobre espirros de astronauta e outros...

Essa é mais uma aposta da Fino Traço Editora (www.finotracoeditora.com.br) para colorir de música as suas aulas.

Conecte suas antenas de dedo e - Witz!

O silencioso mundo de Flor

          Esse é o nome do meu segundo livrinho paradidático, publicado pela Fino Traço Editora. É difícil falar dessa história - a emoção...

          Flor é uma menina surda. Téo, seu amigo, companheiro de aventuras cotidianas.

          "Um dia, Téo puxou Flor pela mão. Saíram correndo morro abaixo. Entraram em um grande barracão, cheio de... (“o que era aquilo?”) instrumentos musicais. Flor nunca havia visto instrumentos musicais.
          Téo fazia gestos. Batia as mãos naqueles objetos. Batia baquetas naqueles objetos. Raspava e sacudia aqueles objetos. Flor não entendia. Seu mundo era só silêncio.
          Flor desejou segurar um instrumento. Téo escolheu um tambor enorme chamado surdo."
          E, assim, Flor descobre um mundo novo.
     
         A história, tocante, fala de amizade, solidariedade e inclusão (no sentido mais verdadeiro da palavra), e tange temas como educação ambiental, saúde e cidadania. Além disso, contempla diversos elementos musicais para se trabalhar com as crianças: som e silêncio; intensidade; sons do ambiente natural e do cotidiano; timbres; instrumentos de percussão; andamento; ritmos; modos de produção do som; grafias musicais alternativas; estilo; acústica.

          Não deixe de ler! Recomendado para toooodas as idades.

16 setembro 2011

Educação-musical-ambiental 4: Música no ZOO

"ZOO era um zoológico diferente. Lá, bicho falava, bicho cantava, bicho tocava até instrumento.

Mas, não tinha plateia, uma banda tão legal!

Então, Dante teve uma ideia, para lá de original:

     fazer um show...
          ... convidar criança...
               ... estourar pipoca...
                    ... dar uma festança!"

Este é o enredo de um livrinho lindo que acabei de lançar pela Editora Fino (www.finotracoeditora.com.br), com ilustrações da Carolina Merlo. Na história, cada bicho toca um instrumento e, juntos, formam uma banda. Já que não têm plateia, decidem fazer uma festa e convidar as crianças para tocar com eles. Para que todos possam participar, eles pintam audiopartituras no muro, combinando os sons dos instrumentos em notação gráfica.

O livro é um paradidático para crianças de seis a oito anos, que propicia o trabalho de vários temas:
- instrumentos musicais;
- timbres (vocais, instrumentais, vozes dos animais);
- caráter expressivo;
- altura e duração dos sons;
- notação musical analógica;
- textura;
- arranjos instrumentais.

Além disso, promove o afeto e o respeito pelos animais, envolvendo-os no mundo imaginário-musical da criança.

O próximo livrinho já está no forno...

Ode à alegria

Vejam texto publicado recentemente no Boletim da UFMG.

Acesse o link para ler: http://www.ufmg.br/boletim/bol1748/2.shtml


Abraços,

Cecilia.

De volta!!!

Queridos amigos,

estamos de volta com o nosso BLOG! E devo esse retorno à querida amiga Viviane Beineke, que elaborou um material lindo para apresentação dos meus livros e CDs. Sua generosidade é tamanha que permitiu postá-lo aqui. Basta clicar neste link:  http://audiovisual.uab.ufscar.br/em/viviane/an13/em_vb_an13.swf

Quando a página abrir, clique na imagem dos livros, à esquerda. Espero que gostem - agradeçam à Viviane!

Abraços!

04 janeiro 2011

Lo primero tango no se puede olvidar

Charme, mistério, paixão, melancolia, nostalgia, boemia. Adjetivando-se: poético, dramático, profundo, fatal, feminino e masculino. Não há como sair ileso. Impossível ficar indiferente.

Todas as noites, Buenos Aires se entrega à sonoridade e aos passos do tango. Nasceu nos subúrbios da cidade de uma combinação de elementos de origem italiana, espanhola, crioula, cubana e negra. Tangó era o nome do lugar onde os negros se reuniam; tangano, uma dança africana; tango, uma onomatopeia ou um jeito de se (tentar) falar a palavra tambor.  Com passos da milonga, ritmos do candombe, melodias da habanera, toques do flamenco e da canção italiana, mas fortemente identificado com a cultura portenha, o tango fala de sentimentos universais (pelo menos, do universo dos apaixonados, melancólicos, dramáticos). O compasso 2/4 sofre mudanças de andamento sem nenhuma cerimônia, sem pudor de confessar o sentimento, de reconhecer que, como os tangueros, ora pisamos confiantes, expansivos, ora arrastamos os pés de um lado a outro, ou nos recolhemos.

Antes de surgir em forma de canção, tango era uma maneira de se dançar. Pelo seu caráter sensual e ousado, que transgredia os "bons modos", era discriminado pela classe alta. Além da sensualidade da dança, a criatividade da improvisação e a variedade dos passos fascinavam expectadores. Os primeiros tangos eram tocados pelo violão e pela flauta. Foram convidados o piano, o violino, o contrabaixo e, como protagonista, o bandoneon. Este instrumento é originário da Alemanha, mas sua vocação para o tango estava escrita: "qualquer um que tenha um bandoneon sobre os seus joelhos tem um destino inevitável, que é o tango", afirma Rodolfo Mederos. O instrumento respira: inspira e expira como um outro corpo junto ao do instrumentista. Uma escultura localizada em uma praça da Recoleta sintetiza a cumplicidade música-músico-dançantes: Con El Fuelle Adentro, de Leo Vinci.







































A sensação chegou à Europa no começo do século XX e abalou Paris, cidade então movida a bailes. De lá ganhou o mundo e caiu no gosto das rodas sofisticadas e dos contextos, digamos, mais "familiares". A partir do fim da Primeira Guerra Mundial, surgiu o tango-canção. As letras e os cantores passaram a ser mais valorizados, especialmente devido à voz e ao charme de Carlos Gardel (1890-1935). Não se sabe se teria nascido “Carlos” no Uruguai ou “Charles” na França, mas o que importa é que se fez Gardel na Argentina. Dizia: “nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade”. Levou o tango a Paris, aportou em Hollywood, imortalizou canções e arrebatou multidões. Da sua parceria com Alfredo La Pera nasceram clássicos como Mi Buenos Aires querido, El dia que me quieras, e Por uma cabeza, que você pode ouvir neste link: http://dl.dropbox.com/u/15280243/Por%20una%20Cabeza.wmaMorreu precocemente em um desastre aéreo em 1935, deixando mais de 900 gravações entre tangos, fox-trots, fados e outros gêneros.

O tango seguiu sua sina. Nos anos 40 e 50, as letras tornaram-se mais românticas, mas a música ainda era protagonista: dançava-se aos suspiros que o tango inspirava. Na década de 60, quando o rock'n roll surgiu como fenômeno mundial, entrou numa fase de ostracismo, mantendo-se em pequenos e apaixonados núcleos de resistência. Até que Astor Piazzolla (1921-1992) o reergueu, revolucionando o gênero: inventou um tango erudito, de influência contemporânea e jazzística, não para se dançar, mas para se tocar e ouvir, com ritmos complexos e novas cores harmônicas. Minha peça favorita é Le Grand Tango, para cello e piano, cheio de romantismo em um ambiente sonoro urbano e vigoroso. Na internet há alguns vídeos da peça, incluindo uma versão com Gidon Kremer ao violino (http://www.youtube.com/watch?v=eamRlKTe7rU). Não deixe de ver também o próprio compositor ao bandoneon interpretando Adios Nonino (http://www.youtube.com/watch?v=VTPec8z5vdY).

O repertório instrumental e cantado é enorme e há tangos para diferentes gostos. 
Para a performance instrumental das crianças, gosto das peças do livro Palitos Chinos de Violeta Gainza: El treinta y três e Homenaje a Pizzolla, que é uma adaptação do tema Invierno porteño de Piazzolla. O tema consiste de frases em sequência melódica cujo ritmo é característico da escrita do compositor (Exemplo 1).

Em seu trabalho para iniciantes ao piano, Duetos populares, Ricardo Nakamura inclui um tango melancólico, de frases longas e poéticas, com harmonias piazzollianas, entitulado Severino em Buenos Aires. Você pode ouvir duas versões: piano a quatro mãos (http://dl.dropbox.com/u/15280243/Severino%20em%20Buenos%20Aires%20%28piano%20a%204%20m%C3%A3os%29.wma ) e conjunto instrumental (http://dl.dropbox.com/u/15280243/Severino%20em%20Buenos%20Aires%20%28acompanhamento%29.wma). A criança pode improvisar sobre a versão instrumental, experimentando sequências melódicas com o movimento característico em zigue-zague (Exemplos 1 e 2), notas alteradas, ritmos característicos, contratempos, síncopes, etc. 


Sobre o acompanhamento do professor, o aluno pode realizar mudanças de andamento, como ocorre no tango-canção, e incrementar os motivos com variações de acento e articulação stacato/legato típicas das peças instrumentais, como em Adios Nonino (Exemplo 3).


 Todas as noites, Buenos Aires se entrega à sonoridade e aos passos do tango, seja nas ruas, nos shows para turistas no Café Tortoni ou nos recantos “bandoneon à luz de velas”. Atualmente, a vedete é outra vez a dança. O repertório inclui os melhores tangos para se dançar. Mas como se costuma dizer na cidade, "Carlos Gardel está cantando cada vez melhor".


Referências:
Gainza. V. H. Palitos Chinos (Chop-Sticks): para la iniciación ao piano. Buenos Aires: Barry, 1987.
Nakamura, R. Duetos Populares: 12 peças a quatro mãos para o iniciante de piano, v.1. Brasília, 2006.

Fontes:
http://www.tangobh.br.tripod.com/
http://www.lunaeamigos.com.br/cultura/tangoargentino.htm
http://www.esto.es/tango/espanol/historia.htm
http://www.welcomeargentina.com/tango/historia.html
http://www.anosdourados.net.br/internacional/latino.htm

03 dezembro 2010

Educação-musical-ambiental 3 - Deus e os cachorros

Dizem que Deus se revela nas pequenas coisas. Revelou-se lá em casa, essa semana, em nove pequenas coisas.

Os protagonistas desta história são os famosos animaizinhos de estimação dos famosos personagens dos livros da série Para fazer música, JL e Fê.

Em Para fazer música v.1, 2008
Crescidos, em Para fazer música v.2, 2010


Compramos a “Ânika”, filhote de Golden Retriever, uma menina doce e levada. O “Amigo” nos foi presenteado já adulto, com três anos de vida. Ambos têm um pedigree espetacular, o que se revela não só na beleza, mas também no temperamento.
Casaram-se (foi amor ao primeiro latido). Há algumas semanas percebemos que o apetite da garota havia aumentado consideravelmente. Os seus quadris, também. Estávamos esperando filhotes, mais de sete, disse o veterinário. Domingo ela começou a raspar as patas no chão, como se estivesse cavando. Esse é um sinal de que a hora está chegando...
Imaginem: eu, nascida com boa dose de frescura, fiz-me parteira. De cachorro. Um a um, foram chegando ao mundo. Quanta elegância da mamãezinha! Com tranqüilidade e toda responsabilidade, rasgava a delicada “embalagem” e limpava os rebentos, até não sobrar vestígio do ocorrido. Nove. O último não resistiu. Colocamos o pobrezinho em uma sacola fechada, na saída de serviço. Horas depois, já descansada, Ânika conseguiu passar à área de serviço e foi buscá-lo. Trouxe-o pela boca, dentro da sacola, e o colocou junto dos outros...
Eu, inaugurada parteira de cachorro, chorei. Nenhum livro ou faculdade teria me ensinado tanto sobre a força da natureza, sobre o traço de Deus, sobre instinto. Instinto, não: amor.

Eu, que obtive a graça de ser mãe de gêmeos, agora sou avó de oito delícias: Flor, Hannah, Stella, Vick, Big, Bento, Joe e Michael.

Para celebrar, ouça a música Vira-raça, do Zé Zuca (http://www.zezuca.com.br/), clicando neste link: http://dl.dropbox.com/u/15280243/07%20Vira-%20ra%C3%A7a.wma
Vozes: Zé Zuca e coro. Faixa integrante do CD Álbum de Figurinhas: Figuras da música para crianças no Brasil. Selo Rádio MEC.

Você conhece esse estilo musical? É o foxtrot. Como é a introdução (instrumentos, vozes, latidos)? Observe como os sopros entram em momentos específicos. Que sons imitam os passos dos cachorros? Como as vozes se alternam nas estrofes? As duas frases de latidos são bem diferentes entre si; você consegue cantá-las?
E vamos ensaiar o Groove da Ânika, criado por Gabriel Murilo e Giovanni Mendes. O ritmo é fácil: tem semínima (pulsação de som), pausa de semínima (pulsação de silêncio), mínima (um som que dura duas pulsações) e sua pausa. É só seguir a pulsação. Mas precisa muita concentração para entrar, pois não tem contagem. A única dica é o slide do baixo, que funciona como anacruse. É só escutar a gravação que você vai entender. Clique aqui:
http://dl.dropbox.com/u/15280243/Groove%20da%20Anika%20Gabriel%20Murilo.mp3.

Cante, dance, bata palmas, toque com instrumentos. Improvise outras levadas rítmicas, enfeite com percussão, invente uma letra, crie back vocals de... latidos (!?!). Espere aí: você sabe falar cachorrês?



          Curiosidades (para as crianças) - resposta para a pergunta da semana passada
Quem é o melhor ouvinte do planeta?

Bem, depende. À parte científica é fácil de responder. O ser humano ouve sons de frequência entre 20 hertz (mais graves) e 20.000 hertz (mais agudos). Mas os cachorros ouvem sons entre 15 e 50.000 hertz, ou seja, agudíssimos, que nós não percebemos. Os gatos ouvem entre 60 e 65.000 hertz. Os morcegos, entre 1.000 e 120.000. Agora, pasmem: os golfinhos ouvem sons de até 150.000 hertz!
(Fonte: Grismshaw, Caroline. Som: uma jornada que transforma o silêncio em som. São Paulo: Editora Callis, 1998, p.16.)

Mas o que significa ser um bom ouvinte? Escutar muitos sons? Ouvir sons mais graves e mais agudos do que os outros seres vivos? Ouvir sons muito, muito baixinhos? É apreciar a diversidade musical? Saber distinguir estilos musicais? Compreender o que se ouve? É saber escutar as pessoas com atenção e respeito? Obedecer o papai e a mamãe? O que você acha? Poste um comentário com a sua opinião.

29 novembro 2010

Carta para Almeida Prado

Mestre, você agora é um morador celeste. Obrigada por nos deixar a sua música, tão cheia de energia, de cores e de delicadeza. Aqueles arpejos e ritmos de dar nó fazem o improvável parecer indispensável.

Obrigada pelas peças da sua Cartilha rítmica que, interpretadas por Sarah Cohen, emprestam-se à apreciação musical pelas crianças no meu livro Para fazer música 1. Deixe-me homenageá-lo contando como isso acontece.

São três peças marcantes, cheias de personalidade e de vitalidade. A primeira chama-se Dois tempos simultâneos com quiálteras a 3 vozes: Maria ao mundo oferece quem vem salvá-lo: Jesus. Ela é bem doce e intimista. A estrutura irregular das frases é arredondada pelas quiálteras de três semínimas sobre duas semínimas e pelo movimento de quiálteras de cinco colcheias na mão esquerda sempre que a direita repousa. Depois de muitas notas docemente alteradas, a peça termina com um acorde perfeito maior. Clique para ouvir: http://dl.dropbox.com/u/15280243/Maria.wma.

A segunda peça é Pulsação fixa de 3 colcheias com articulações de 3 semicolcheias, que dura apenas 12 segundos. É bem rápida e mantém um ostinato na mão esquerda articulado de três em três notas, sobre o qual se desenrola uma melodia em grupos de três notas ascendentes em sequência, até que a direção é invertida e os grupos de três notas descem quase até o ponto inicial. Um único gesto, que dispara e retorna. Clique para ouvir: http://dl.dropbox.com/u/15280243/Pulsa%C3%A7%C3%A3o.wma.

A terceira, Maracatus do Recife II: Esquema rítmico do maracatu, tem motivos repetidos que utilizam o ritmo característico desse gênero - a síncope entre grupos de duas colcheias - sobre padrões de quatro semicolcheias e de quiálteras, que vão acelerando até um corte abrupto. Clique para ouvir:
http://dl.dropbox.com/u/15280243/Maracatu.wma.

Mesmo que as crianças não compreendam as questões composicionais técnicas das peças, elas percebem a singularidade rítmica e expressiva de cada uma, podendo manifestar sua compreensão por meio da corporeidade, da regência intuitiva e da grafia analógica, produzindo mini-audiopartituras para representá-las. A princípio, esses registros tendem a ser "pessoais e intransferíveis". À medida que a percepção e a grafia se refinam, a notação pode ser melhor definida para registrar a ideia musical de forma cada vez mais aprimorada.

Antes da escuta e eventual grafia das peças, é interessante que as crianças façam o caminho contrário: analisar e transformar em música mini-audiopartituras gráficas como estas (você pode imprimir a imagem no link lá embaixo).



Para realizá-las, é preciso observar todos os detalhes. Durações, caráter e estrutura são sugeridos pelo traço, pela forma e, digamos, pelo assunto.

A primeira é formada por três cartões em forma ABA. O primeiro e o último apresentam linhas contínuas sinuosas, ascendentes e descendentes, com alguns "respingos" de sons curtos. A parte central sugere a morosidade de uma lesma carregando sua casa nas costas: um som contínuo, piano, lento, muito lento, enrolando-se. Algum elemento na sonorização precisa sugerir esse movimento de dentro para fora (ou de fora para dentro).

Na segunda, o que mais chama a atenção é o tema: choro. Seguir o traço dos desenhos é simples: dois sons em curva, separados por um expressivo silêncio, gotas caindo e se acumulando numa poça sonora. Mas choros podem ser de tristeza, de alegria, de emoção, de saudade, de arrependimento... Como traduzir sonoramente padrões psicodinâmicos tão subjetivos?

A terceira é composta de quatro diferentes eventos, guardando entre si a semelhança do material, sons curtos e longos organizados em diferentes desenhos melódicos e estruturais. O último guarda unidade com os anteriores apenas pela presença do curto e longo, mas sugere uma caracterização expressiva diferente, engraçada ou irritante, talvez.

A quarta é um grupo de espirais sonoras, rápidas, justas, girando sobre si mesmas como um pião. A quinta tem um conteúdo pictórico mais filosófico: o ser pensante refletindo, questionando, exclamando... A última tem a forma bem nítida com dois eventos alternados até a coda surpreendente, formando um ABABAC. Seguir o traço? Seguir o tema?

A realização é livre. Todas as soluções criativas são legítimas, mas deve-se cuidar para que sejam também legitimamente musicais, que guardem coerência tanto quanto originalidade, que tenham um impacto sonoro que prenda a atenção, que expressem argumentos com convicção. Essas mini-audiopartituras apresentam diferentes arranjos estruturais; o fluxo ora é mais discursivo, ora mais articulado; os eventos são ora repetidos, ora transformados. Sobre esses esboços, as melodias podem ser delicadas, animadas, engraçadas, dramáticas... Os ritmos podem ser tranquilos, apressados, irregulares, saltitantes... O caráter expressivo pode ser giocoso, melancólico, engraçado, dramático, solene, militar, dolce... Um apetitoso menu degustação dentro de um universo musical de fácil manejo.

Caro José Antônio de Almeida Prado, morador celeste, inspire-nos sempre!

Obrigada, obrigada, obrigada.

26 novembro 2010

Educação-musical-ambiental 2 - Valsa da aranha

Como educadora-ambientalista-musical (ou será educadora-musical-ambientalista?) comunico que não mato mais aranhas e até fiz uma valsa para elas.

Foi uma daquelas magricelas que me inspirou. Sempre tive pavor, mesmo das mais magricelas. Naquele dia, só fiquei olhando. Ela me encantou. A perfeição da teia era de tirar o chapéu. Uma obra de arte. Descobri que o problema das aranhas não era pessoal, tipo assim, comigo. O lance delas é comer insetos. E mesmo que elas comessem mulheres, eu não caberia na boca delas.

Mas outro dia matei um enxame de louva-a-deus recém-nascidos pensando que fossem gafanhotos, daqueles que obrigam formigas ao trabalho escravo.

Estamos começando nosso trabalho de educação-musical-ambiental aqui no blog com propostas que promovam o desenvolvimento de uma relação de amor com o planeta e com todos os seres viventes. “Meio ambiente” é um dos temas transversais mais prementes da educação. Precisamos construir valores e atitudes responsáveis, passando pela ecologia sonora, acústica, tecnologia e cidadania. Toda 6ª feira é dia de educação-musical-ambiental aqui no blog (veja também a postagem do dia 19 de novembro).

Vamos à valsa: compasso 3/4, segundo tempo ligeiramente deslocado, 3º tempo quase sempre em pausa. O tema consiste de um intervalo de 3ª maior ascendente (dó-mi) seguido de uma 3ª menor ascendente (dó-mib), e umas firulas cromáticas em ritmo pontuado para “a aranha tece”. A segunda frase tem a mesma estrutura, primeiro com o intervalo de 3ª menor (ré-fá), depois o de 3ª maior (ré-fá#), sugerindo que “a teia cresce”. O mesmo na terceira frase, com a terça menor se abrindo pela nota mais grave (mi-sol, mib-sol). A última frase é um desfile cromático descendente, igualzinho a uma aranha descendo de rapel ou tirolesa, tão corajosa que merece bis. A partitura pode ser impressa no link lá embaixo.

Valsa da Aranha
                           Cecília Cavalieri França

Tece, tece                           Prende, prende 
A aranha tece                      Quem aparece

Cresce, cresce                     Seja bicho grande ou pequenino
A teia cresce                       Ele desaparece   (bis)


Clique para ouvir: http://dl.dropbox.com/u/15280243/04%20Valsa%20da%20Aranha.wma
O arranjo de cordas é inteiramente realizado pelo violoncelo.Voz: Isabela Santos; cello: Isabelle Alves; arranjo: Luiz Enrique.

(Você já sabe: pode imprimir as imagens no link lá embaixo na página).

Compassos ternários são excelentes para o trabalho de percepção e realização do apoio, ou acento métrico. Binários e quaternários podem ser ambíguos. Ternários, nunca. As crianças podem dançar e andar solenemente marcando apenas os tempos fortes com os pés. Vencida essa etapa, deve-se trabalhar a coordenação entre dois movimento diferentes: um para o apoio e outro para as demais pulsações (exemplos: pés x palmas; palmas x estalos etc). O melhor da festa é realizar os modos rítmicos com instrumentos.


Essa partitura é bem simples, para os pequenos. O tambor marca os apoios; o triângulo, as demais pulsações. O quadrinho pontilhado significa pausa. O acompanhamento de percussão segue a mesma estrutura das frases da canção. Gradativamente, os arranjos podem ser incrementados, cuidando-se para que sejam coerentes e musicais. As próprias crianças devem criar suas versões e experimentar possibilidades.

Espero que essa doce postagem estimule as pessoas a olharem as aranhas de outra maneira. No meu caso, continuo olhando-as da mesma maneira: de longe.



Curiosidades (para as crianças) - respostas para as perguntas da semana passada


          É possível ouvir o silêncio?
Hum... não é, não. O silêncio absoluto não existe no nosso planeta. Mesmo no lugar mais silencioso haverá algum inseto ou algum som de fundo. Na Grande Pirâmide de Gizé, no Egito, existe uma sala chamada Câmara do Rei que é à prova de som. Lá dentro, em silêncio total, é possível ouvir o som da nossa respiração e até mesmo do nosso sangue circulando nas veias. Onde há ar, o som se propaga. Somente no vácuo haverá silêncio absoluto. (Grimshaw, C. Som: uma jornada que transforma o silêncio em som. Editora Callis, 1998, p.25)

          O que são ondas sonoras?
Quando os objetos se movimentam, eles vibram e fazem o ar à sua volta oscilar, produzindo ondas de ar. Essas ondas chegam aos nossos ouvidos e são transformadas em informações que o nosso cérebro interpreta como sons. Tudo isso acontece em milésimos de segundos! Barulhos muito fortes fazem até o nosso corpo vibrar. Você já sentiu?

Pergunta para a próxima semana:
              
          Quem é o melhor ouvinte do planeta?

24 novembro 2010

A expressividade dos sons curtos e longos - Atividades 2


 
O tema  “ritmo” ou “durações” apoia-se primordialmente na duração relativa dos sons. Da combinação de sons curtos e longos, acrescidos de silêncios e acentos, derivam-se todos os padrões rítmicos. Estes podem ser regulares, ou seja, medidos ou métricos, associados ao pulso constante; ou podem ser irregulares, aleatórios, não métricos. Ambos, padrões de sons regulares e irregulares, ocorrem tanto na música quanto na natureza e no cotidiano.

Esse aspecto do universo musical é talvez o que se preste de maneira mais imediata à expressão pelo movimento - um dos principais fundamentos da educação musical - e à representação gráfica, ou analógica. Como o nome indica, esta se baseia na analogia entre propriedades do campo auditivo e do visual. Sons remetem-nos a formas visuais e vice-versa.

No processo de musicalização a escrita analógica tende a se desenvolver naturalmente. Pontos, linhas, contornos, emaranhados e arabescos surgem como continuidade da movimentação pelo espaço. Enquanto a escrita tradicional no pentagrama requer longo aprendizado, a notação analógica é quase inequívoca: sons curtos são representados por pontos ou traços horizontais pequenos; sons longos, por traços mais compridos. Assim, a notação rítmica analógica pode ser precisa, aproximada ou indefinida conforme o contexto rítmico seja regular ou irregular.  

Inúmeras estratégias são empregadas para se trabalhar a relação entre sons curtos e longos na educação musical. Atividades de reação a estímulos sensoriais táteis (toques no corpo), visuais (seguir a regência), sonoros (reagir aos sons ouvidos), com bola, de exploração da grafia, leitura, trabalho com material concreto proporcional e outros são bastante conhecidos.

Mas, muitas vezes, essas atividades se limitam ou se encerram no trabalho de reconhecimento e de reprodução sonora, não raro de maneira mecânica, pouco musical. Na verdade, permanecem focados no âmbito dos materiais sonoros, apenas, sem que haja uma exploração expressiva ou uma abordagem estrutural desses materiais.

Afinal, para que as crianças irão aprender a distinguir, reproduzir e grafar sons curtos e longos senão para transformá-los em música? A ideia é que, partindo-se dos sons, sejam delineados gestos expressivos e estruturas musicais.

Padrões de sons curtos terão um caráter expressivo completamente diferente se realizados em andamento rápido ou lento; forte ou piano; grave ou agudo; pela voz ou por instrumentos (essa experimentação por si só já é extremamente musical!). Sons longos podem conter um crescendo, movimentar-se entre o grave e o agudo, criar sensação de repouso ou de expectativa.

Curtos e longos podem se combinar de diversas maneiras, em sobreposições, justaposições, contrastes súbitos ou mudanças gradativas. Podem dialogar, alternando-se de maneira equilibrada, com intervalos de silêncio ou não; uns podem se destacar sobre os outros ao fundo. Enfim, é um vasto menu para experimentação, improvisação e composição.

A audiopartitura abaixo tem dois estratos: um com sons curtos, repetidos, mais agudos, sem alterações do começo ao fim; outro com um som contínuo que se move à vontade dentro do registro médio-grave.



Nessa atividade aparentemente simples surgem oportunidades para escolhas seriamente artísticas e estéticas. Como não há nenhuma indicação, a audiopartitura pode ser realizada em andamento rápido ou lento; em intensidade forte ou piano; com caráter delicado ou nervoso; como chuva sobre um horizonte montanhoso; como marteladas e serra elétrica numa carpintaria; como o tic-tac do relógio e o ronco do seu avô.

Depois de experimentar várias possibilidades de realização da audiopartitura, ouça uma gravação da peça Tartarugas, do Carnaval dos animais, de Camile Saint-Saens. http://dl.dropbox.com/u/15280243/St%20Saens%20Tartarugas.wma


Observe como as escolhas feitas pelo compositor determinaram o caráter doce e solene da peça. O piano surge realizando acordes no registro médio, em dinâmica piano. Geralmente, em uma peça para piano e orquestra, é o primeiro que faz o solo, acompanhado pela orquestra. Em Tartarugas, a inversão de papéis é saborosa. Sobre o acompanhamento do piano entram as cordas, no registro médio-grave, em pianíssimo, realizando uma melodia tranquila, legato, em frases longas e dilatadas no tempo - tão dilatadas, que quase não se reconhece a melodia do Can-can, tema de Offenbach. Aqui esse tema é completamente transformado: a melodia das dançarinas, rápida e articulada, desaparece e dá lugar às enormes frase em legato, solenes e misteriosas, serenas e velhas como as tartarugas - as grandes, no caso. Não lhe parecem velhas as tartarugas?

Uma experiência sublime é vivenciar a percepção dos dois estratos (piano e cordas) por meio do movimento, realizando-se uma partitura viva. Formam-se dois grupos: um no círculo externo, movendo-se e expressando com gestos a linha dos acordes do piano, leves mas com personalidade; o outro grupo, ao centro, realiza as longas e elegantes frases das cordas, sustentadas como movimentos de Tai Chi Chuan. Depois, inverte-se: sons curtos ao centro, legatos na roda. Ora os acordes envolvendo as linhas das cordas, ora estas contendo os sons do piano. Uma escultura dançante!
         

Através do movimento, nosso corpo faz a mediação entre o domínio visual e o auditivo.  Volte à audiopartitura inicial e ouça a peça mais uma vez. Como lhe parecem ambas, música e partitura, após essas experiências?

Quanto mais oportunidades de escuta e experimentação, mais as crianças poderão colher, dentre um amplo repertório de ideias, inspiração para as suas próprias criações musicais, usando instrumentos convencionais ou alternativos, voz, percussão corporal e movimento. Reciprocamente, podemos partir de notações simples e criar e mundos sonoros extraordinários.

Que tal fazer música a partir desses incríveis estímulos?

Para o pintor Wassily Kandinsky, a linha é um ponto em movimento.

“Nunca, antes de Klee, havia-se deixado uma linha sonhar” (Bergson, em O olho e o espírito”, de Merleau-Ponty, 1961).

Deleite-se!

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